Minha batalha contra a COVID 19

Olá amada Igreja! Que a graça e a paz de nosso Senhor Jesus esteja com todos

Descrevo aqui minha experiência diante dessa batalha contra a COVID-19, que estamos enfrentando, mas que na graça de Deus venceremos. Menciono aqui alguns textos bíblicos que me fortaleceram durante esse período de dez dias de internação hospitalar.

Pois nessa esperança fomos salvos. Mas a esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente. Romanos 8.24,25

Apesar de todos os cuidados para não contrair o vírus, isso aconteceu de maneira repentina. Inicialmente minha esposa Rozana apresentou os sintomas e superou. No dia 12 de Março de 2021, fomos ao Hospital do Pulmão onde verificaram um quadro de respiração complicado com 75% do pulmão comprometido, permanecendo numa sala de observação por horas. Recebi oxigênio por cateter e depois uma máscara de oxigênio de alta concentração para ser transportado.

Foi necessário contratarmos uma Ambulância para me levar do Hospital do Pulmão até o Hospital Santa Isabel, onde fui colocado numa sala de observação. Em meio às dificuldades de internação, a oração da Igreja e o empenho de algumas pessoas foram definitivos para a internação e não precisar de UTI nem de intubação.

Coloquei toda minha esperança no Senhor; ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro. Salmo 40.1

Uma sensação de desconforto e constrangimento ocorreu quando, tiraram minhas roupas, recebendo um jaleco hospitalar e devolvendo os pertences para a Rozana que aguardava na recepção com expectativa. Tudo isso acontecendo, em meio a uma confusão mental e física por conta da dificuldade de respiração. A sensação daqueles momentos era um tanto surreal. Parecia uma mistura de sonho com realidade. O pessoal da enfermagem fazia algumas perguntas, mas que na hora pareciam estranhas e desconexas. Nem sei se respondi adequadamente. Também não tenho certeza se todos passam por esse tipo de sensação, mas foi o que experimentei.

Fiquei um tempo nessa sala de observação e depois me levaram numa maca até o quarto. Foi um longo percurso, respirando com dificuldade, olhando para o teto, entrando em elevadores, ouvindo as conversas, os sons e tudo aquilo entrando em minha mente, girando, girando. Finalmente cheguei ao quarto, numa ala de isolamento do hospital, onde havia dois homens. E aí começou um novo momento em minha vida, com experiências que certamente marcariam minha existência.

Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Salmo 40.1

Já era noite adentro e fui colocado da maca na cama que me acomodaria por dez dias. Era uma cama mais antiga, um pouco curta, pois os pés ficaram um pouco pra fora, mas a vantagem é que tinha acionamento automático, algo que só percebi no segundo dia. Juntando toda situação, eu ainda estava sem me alimentar, e pela manhã chegou o café. Que legal. Nem tanto. Logo fui informado que não deveria comer nada, pois precisaria fazer um exame que necessitava de jejum. Já estava com dor de cabeça pela fome então a solução era tomar muita água.

Posteriormente, mais a noite, alguém percebeu que houve um erro e o exame que era Tomografia, não tinha necessidade de jejum, portanto não havia porque não ter me alimentado. A equipe medica e enfermagem ligou para a Rozana, pedindo desculpas pelo ocorrido. Felizmente não foi algo mais grave. Com isso, pude saborear as próximas refeições e não deixava sobrar nada. Sabia que precisava me alimentar para uma rápida melhora.

Fiz a Tomografia e depois um enfermeiro me perguntou o porquê eu estava tão calmo para esse tipo de exame. Aproveitei a oportunidade de me identificar um discípulo de Jesus, demonstrando minha confiança em Deus. Depois de algumas horas retornei ao quarto, onde tive a talvez a mais constrangedora experiência de minha vida. Um banho de panos umedecidos por dois enfermeiros e em outras ocasiões por outras enfermeiras. Sinceramente, não segurei, 2 chorei mesmo. Naquele momento não pensei somente em mim, mas em todas as pessoas que necessitam desse auxílio, que dependem de uma ajuda profissional ou familiar não só momentâneo como no meu caso, mas às vezes, definitivo. Passado essa situação, me aconcheguei a uma cama limpa e cheirosa. Era hora de tentar dormir. Sim tentar, por que com as constantes entradas no quarto da equipe de enfermagem, para tirar sangue de um, dar remédio para o outro, trocar o soro; o sono era sempre interrompido. Logo os dois homens que estavam comigo, tiveram alta e no dia seguinte chegaram mais dois pacientes. Foi com esses dois novos homens que pude orar e compartilhar de Jesus.

A minha boca falará sem cessar da tua justiça e dos teus incontáveis atos de salvação. Salmo 71.15

No meio da noite chegou o paciente Edilson. Não estava nada bem e logo comecei a orar por ele. A situação da noite foi semelhante da anterior, mudança de turno de enfermagem, entra e sai do quarto, acende e apaga luz, mede saturação, temperatura, pressão, tira soro, põe soro, toma remédios. Amanhece e chega o café. Que delícia. Comecei a sentir dores nas pernas, mas disseram que era pelo tempo deitado. De manhã recebia apoio de fisioterapeutas para exercícios respiratórios e movimentação das pernas.

Chegou o momento do banho e desta vez teve até um pouco de água nas costas, mas ainda constrangedor, pois duas enfermeiras faziam o serviço. Trocaram as roupas de cama, o jaleco e o cuecão do hospital. Tudo limpo, já me sentia melhor. É hora do almoço e depois um cochilo para compensar a noite mal dormida. No inicio da tarde entra e sai vários profissionais da saúde cumprindo suas atividades, alguns de maneira eficiente, e outros de maneira amorosamente eficiente. Uma enfermeira em especial a Jozieli, um anjo que Deus enviou para nos servir com competência, alegria e amor. Peguei o endereço dela e prometi um presente para ela e o marido. Creio que serão bons discípulos de Jesus. Chegou à noite trazendo o João (de Timbó). Esse realmente estava muito mal. E fizeram algumas intervenções e graças a Deus ele superou, não precisando de intubação. Felizmente eu estava com o celular e a Rozana me enviou materiais de higiene pessoal, fones de ouvido, livro e até palavras cruzadas.

Então creram nas suas promessas e a ele cantaram louvores. Salmos 106.12

Nessa noite ouvi um louvor: “Olhar para o alto” da cantora Heloisa Rosa. Fui tocado por Deus e depois ouvi novamente, mas desta vez sem o fone de ouvido para os colegas de quarto pudessem ouvir também. Como eu não estava conseguindo falar, creio que a música falou por si.

Uma parte da música diz assim: “Eu vou olhar para o alto e acreditar nos Teus cuidados. Vou me firmar sobre a Rocha. A tempestade passará e eu ficarei em pé” “Confiarei minha vida a Ti. Descobrirei o que Tu tens para mim. Tua palavra não falhará”

Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Salmos 92.1

Nessa noite consegui dormir um pouco melhor, porque as interrupções aconteciam normalmente. Às vezes precisava ficar de barriga para baixo o que era bastante incômodo, mas auxilia na oxigenação. Chega mais um novo dia, as coisas vão acontecendo, enfermeiras e fisioterapeutas vêm e vão, tira sangue, faz isso, faz aquilo, banho, almoço. E finalmente consegui iniciar uma conversa com o Edilson sobre trabalho, família, que fé professava e descobri então que já frequentou cultos conosco em Blumenau em 2001. A partir daí iniciamos um novo tipo de conversa e pude orar com ele.

A minha boca falará sem cessar da tua justiça e dos teus incontáveis atos de salvação. Salmos 71.15

Alguns irmãos lembraram-se dele e passei o contato dele. Edilson e família querem nos visitar, já que atualmente não estão congregando em nenhuma comunidade cristã. Deus tem seus caminhos para atrair a Si aqueles que Ele ama. Também Deus me deu oportunidade de falar (mesmo com a voz rouca e sendo cansativo), com o João de Timbó. É Testemunha de Jeová. Estava bem aberto porque havia escapado da morte e pude compartilhar diversas situações de minha vida, questões da salvação pela Palavra e orei com ele. Creio que a semeadura foi feita. Posteriormente falei com a filha dele que agradeceu o apoio dado ao pai dela. E assim encerrava-se um longo dia nessa batalha pela vida física e vida espiritual.

Ó minha força, canto louvores a ti; tu és, ó Deus, o meu alto refúgio, o Deus que me ama. Salmos 59.17 E como diz a música que mencionei antes: _Comigo estás. Tu não me deixarás jamais_

Após a minha internação pelo SUS no Hospital Santa Isabel, pude ver a mão de Deus agindo como resultado das muitas orações da Igreja na cidade, no estado, no país e até do exterior. Muitos unidos, orando pelas pessoas afligidas pela COVID-19. Iniciei com um quadro relativamente grave, mas que foi evoluindo na medida dos medicamentos e na ação de Deus em todo o meu ser. O cuidado de Deus através dos profissionais, as oportunidades de falar da fé, mesmo com limitações e o fato de sentir Deus me segurando pela mão, me lembra o versículo que recebi no dia do meu batismo nas águas em 1985 pelo Pr. Erich Geil e que personalizado fica assim:

O próprio Senhor irá à minha frente e estará comigo, ele nunca me deixará. Nunca me abandonará. Não terei medo. Não desanimarei. Deuteronômio 31.8

Escrevo esse versículo sempre nas primeiras folhas das Bíblias que tenho, pois tem sido realidade em muitos momentos de minha vida, inclusive nesse. Os dias foram passando e fui melhorando. No início, o almoço demorava mais de uma hora, pois a cada colherada de comida, precisava recolocar a máscara com o oxigênio, depois com o cateter nasal, já era mais confortável e menos lento até ficar liberado do oxigênio, o que foi uma grande vitória. Imensa alegria misturada com uma vibração até então desconhecida, foi o momento em que pude ir ao banheiro e tomar banho sozinho, primeiro com a presença do tubo de oxigênio e do soro e depois sem oxigênio. Foi vibrante. Nesse tempo, foi importante observar que tarefas corriqueiras, simples e que muitas vezes não damos o devido valor e louvor, possam agora ser consideradas significativas. Vejo nisso a fragilidade da vida, a importância da gratidão a Deus e o reconhecimento das limitações de muitas pessoas que tanto necessitam de apoio e compreensão. E isso não somente na área física, falando de enfermidades, mas também no campo espiritual e emocional, nos relacionamentos afetivos, na vida da Igreja de modo geral.

Nas conversas que tive com meus colegas de quarto, percebemos o quanto somos mesquinhos e apegados em determinadas coisas, como o trabalho, por exemplo, o quanto é necessário valorizar pessoas e não coisas, o quanto é importante demonstrar amor prático e estar em comunhão com quem se ama. A melhora da minha saúde foi ocorrendo aos poucos e ainda está melhorando vagarosamente, apesar de que a opinião médica diz que estou indo muito bem, esperava já estar melhor. Mas creio que Deus está no controle e Nele descanso. Orava e falava para todos que queria ter alta no dia 22 de Março, aniversário da Rozana e Deus me presenteou com essa resposta de oração. Foi um momento emocionante. Pude me despedir dos colegas de quarto, juntar meus pertences e dar adeus para alguns profissionais e agradecer o atendimento recebido.

Sendo guiado numa cadeira de rodas, seguimos até o final do corredor na saída daquela ala de isolamento, onde encontrei a Rozana me esperando. Foi emocionante. Fomos então até uma área específica de saída dos pacientes da COVID-19, onde aguardei nosso filho Mateus trazer o carro para enfim voltar para casa. Nesse tempo orei pela enfermeira que estava ali comigo. Que Deus a abençoe e todos da equipe de enfermagem que tem gastado sua vida em favor de outros. Chegando a nossa casa, agora era o momento de se adaptar ao novo cenário. Alimentação, medicação, fisioterapia e os devidos cuidados. Louvo a Deus pela minha amada esposa Rozana, que tem se dedicado ao extremo, dando todo o suporte necessário.

Ainda estou no tratamento da trombose na perna esquerda e minha voz ainda não retornou, mas de acordo com os relatos médicos tudo voltará ao normal. A questão é o tempo, e nisso Deus está me ensinando, a saber, esperar Nele. Tivemos gastos excessivos com tantos remédios, mas Deus tem nos suprido. Aleluias.

Deste-me vida e foste bondoso para comigo, e na tua providência cuidaste do meu espírito. Jó 10.12

Nesses dez dias de internação hospitalar e nos dias seguintes, tive a oportunidade de refletir, reavaliar e considerar mudanças em minha vida, pessoal, familiar, ministerial. Considerar as reais prioridades do Reino de Deus, viver o simples, desapegar aos hábitos, estruturas e sistemas. Interceder mais pelos pedidos alheios do que pelos pessoais. Expressar adoração com liberdade no Espírito e aproveitar qualquer oportunidade para testemunhar a bondade de nosso Deus. Procurar ser aberto, transparente, sem medo de ser diferente, mas sempre centrado na viva Palavra de Deus. Confiar que tudo tem um propósito em 4 nossa vida e não é para nós mesmos, mas para o engrandecimento do Reino de Deus. Deus sempre será glorificado de alguma forma com tudo isso.

Ao Rei eterno, ao Deus único, imortal e invisível, sejam honra e glória para todo o sempre. Amém! 1ª Timóteo1.17

Muito obrigado a todos os discípulos que estão ativos nessa batalha espiritual contra as ações do maligno, que envolvem o ser humano decaído da presença de Deus, mas que resgatados em Jesus, vivemos essa maravilhosa esperança que nunca cessa. Que Deus conceda sua infinita graça e misericórdia a todos que estão em aflições por dificuldades pessoais ou familiares, em enfermidades das mais variadas, crendo sempre na intervenção divina, confiando que Deus sempre tem a melhor escolha. Aguardando em Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, para retornar às atividades e rever os amados irmãos de fé, que nesse tempo fizeram uma imensa diferença pelo carinho, amor, intercessão e apoio demonstrado de diversas formas.

Muitíssimo obrigado!